A. J. Gevaerd, da Equipe UFO
A opinião pública norte-americana foi chacoalhada, em 13 de setembro passado, com a apresentação de um documentário sobre discos voadores como não se via há muito tempo. A rede de tevê a cabo TNT levou ao ar, em horário nobre, um programa produzido pela Associated Television que traz impressionantes e inéditas revelações sobre contatos com seres extraterrestres na extinta União Soviética, incluindo a queda de um UFO na região de Yekaterinburg [antiga Sverdlovsk], nos últimos meses de 1968, e a autópsia do que sobrou de um alienígena encontrado nos escombros, em Moscou, no início do ano seguinte.
Se for verdadeira algo que ufólogos do mundo inteiro ainda tentam saber , com certeza o material mostrado transcenderá, e muito, revelações anteriores e igualmente bombásticas sobre o assunto. Os filmes da suposta autópsia de um ET resgatado em Roswell, por exemplo, apresentado em redes de TV do mundo todo em 1995, não têm nem metade da credibilidade que os filmes russos apresentam.
Basicamente, o programa da TNT que será apresentado no Brasil pela Rede Bandeirantes de Televisão foi baseado em alguns rolos de filmes militares que teriam sido comprados no mercado negro de Moscou e contrabandeados para os Estados Unidos. Produtores do programa alegam que seus investigadores pagaram até 10 mil dólares por vários rolos, que foram mantidos secretos durante muito tempo e vieram à tona apenas recentemente, após a completa deterioração do sistema político e militar da atual Rússia.
Roger Moore, o eterno agente 007 do cinema, foi o personagem que fez a apresentação do documentário, que gira em torno dos filmes de curta metragem que mostram o resgate do UFO acidentado e flashes da suposta autopsia do extraterrestre. Alternando entrevistas com especialistas em temas ligados ao assunto e contatos ufológicos na ex-URSS, Romênia, China e em todo o Bloco Oriental, o programa tem cerca de uma hora de duração e traz filmagens inéditas de UFOs em várias circunstâncias. A comoção causada por sua exibição foi tamanha que os ufólogos dos EUA e do resto do mundo estão agitados. Por ter recebido milhares de pedidos, a TNT reapresentou o documentário várias outras vezes.
A revelação da queda de um UFO em plena Tundra Siberiana, há cerca de 1.500 km a leste de Moscou, é uma informação absolutamente nova para a Ufologia. Sabe-se que existem dezenas de casos de quedas destes aparelhos em todo o mundo desde Roswell, em 1947, até Varginha (MG), em 1996 , o que prova que estas máquinas não são infalíveis. Mas ninguém esperava que a Rússia tivesse uma queda tão bem documentada por seus militares e, supostamente, pela toda-poderosa KGB, a hoje dilacerada agência de espionagem interna e externa da ex-URSS, tida como uma das mais versáteis e bem informadas do mundo até o fim dos anos 80.
Enquanto os ufólogos discutem a autenticidade das filmagens apresentada pela TNT, o certo é que as mesmas têm marcantes indícios de serem genuínas, ao contrário das suspeitíssimas filmagens da autópsia do ET de Roswell. Por exemplo, o uniforme utilizado pelos militares que procedem à análise do UFO acidentado em Yekaterinburg coincide com o utilizado na época. Isso poderia significar apenas que, se for forjada, a filmagem foi feita por quem tinha conhecimento das situações envolvidas. Mas este não é o caso, declarou à Revista UFO Alex Hefnan, um russo de nascimento que vive nos Estados Unidos, especialista em operações militares soviéticas. Ele afirma ter sido céptico quanto aos UFOs até antes de assistir ao filme.
Hefnan colocou uma página na Internet [http://www.members.tripoid.com/~ufokgb/] onde faz uma detalhada análise dos filmes. Ele garante que os uniformes e veículos utilizados no resgate são realmente originais e sem sinais de trucagem. E vai mais além: o comportamento dos militares e agentes da KGB que aparecem no filme são absolutamente compatíveis com os que eram os padrões daquela época. No caso dos uniformes, nota-se que os militares não portam um emblema de metal que se esperaria ver em sua indumentária. A explicação é simples: eles só foram adotados pelas forças soviéticas anos após o acidente. Simplesmente, quem estivesse forjando tal filme não saberia deste fato e teria feito a farsa utilizando-se o emblema nos soldados.
Além disso, a roupagem utilizada pelos agentes civis da KGB presentes na cena da queda também é compatível com o padrão da época. Eles apresentam-se bastante bem vestidos, já que eram muito bem pagos em 1969, diz Hefnan. Na filmagem aparecem vários jipes e caminhões militares que, além de serem raríssimos hoje em dia, eram exatamente os modelos utilizados pelos soviéticos na época em questão. O caminhão que aparece transportando tropas e, depois, os destroços do UFO é um modelo ZIS-151, de 1948. Este é um indício fortíssimo de que o filme é legítimo e realmente do ano de 1969, adiciona Hefnan, agora totalmente convertido à realidade dos UFOs.
Outro detalhe importante que atesta a legitimidade dos rolos de filmes contrabandeados da Rússia diz respeito ao local onde o UFO teria caído. Ao observar atentamente o filme, nota-se que a documentação se dá desde a chegada dos militares, sem interrupções significativas na filmagem. Pode-se ver, assim, que antes dos caminhões e tropas abordarem a nave acidentada, não havia nenhuma marca de pneus na neve. A primeira a surgir é a do jipe, que chega ao local trazendo alguns militares. Depois, o caminhão deixa novas marcas, que passam então a se confundir com as pegadas dos homens que examinam o objeto.
Em toda essa seqüência, as sombras das árvores no local são absolutamente as mesmas, indicando que não houve manipulação das imagens e que passou-se relativamente pouco tempo entre a chegada das tropas e o fim das gravações. Esse é outro ponto bastante positivo para a autenticidade do filme, diz Hefnan. De fato. Se fosse uma filmagem fictícia, feita com propósitos comerciais, dificilmente se conseguiria tal assepsia no local das gravações e as marcas seriam evidentes assim como a mudança na posição das sombras, ocasionada pelo fato de que as cenas demorariam muito mais tempo para serem filmadas.
Quanto ao objeto encontrado, o mesmo se encontra parcialmente enterrado no solo talvez não mais do que 30% de todo seu tamanho. É uma nave de aspecto discoidal, com uma cúpula em cima e de 6 a 8 m de diâmetro. Parece ser metálica e relativamente leve, pois vê-se no filme que dois soldados conseguem transportar sozinhos um pedaço relativamente grande dela, acomodando-o no caminhão. Aparentemente o UFO nada tem de anormal, se comparado com casos de naves observadas em vôo. Mas definitivamente não está tão deformado quanto um avião que caísse no solo naquelas circunstâncias.
Também é possível se ver no filme que cada um dos militares e agentes civis da KGB no local realizam tarefas específicas, muito bem organizadas e precisas, diz Hefnan. O cinegrafista que a tudo documenta, por exemplo, faz seu trabalho calma e detalhadamente, às vezes dando um zoom na câmera, noutras tomando cenas de todo o local mas sempre acompanhando o procedimento de análise e recuperação do objeto acidentado. Simplesmente, todos os personagens do filme parecem estar realizando suas tarefas concentradamente, o melhor que podem. Não há o mínimo sinal de que sejam artistas encenando uma situação, declarou à UFO o físico nuclear e nosso representante no Canadá Stanton Friedman, o principal investigador do Caso Roswell.
Segundo informações recebidas através de outras fontes, em 1968 o governo da extinta URSS realmente desencadeou uma operação super secreta de resgate de algo não identificado em algum lugar da Tundra. Essa manobra acessível apenas a altos-escalões militares e da KGB foi denominada de Operação Midget [operação anão ou homúnculo, em Inglês]. Para dar detalhes desta manobra, o programa da TNT apresenta o depoimento de um ex-funcionário da KGB chamado Klimchenkov Pavel Alexandrovich, que aparece no documentário portando carteiras de identificação aparentemente legítimas que comprovariam seu vínculo com a agência de espionagem. Alexandrovich dá detalhes do que se passou e confirma o resgate do UFO.
Testemunhos da queda de UFO
Igualmente, o programa traz diversos documentos que confirmam a ocorrência por vias diretas e indiretas. Um deles é uma cópia de um artigo publicado no jornal Kuznitsa, da antiga Sverdlovsk intitulado Berezovsky Dreams [sonhos de Berezovsky]. Berezovsky é o local preciso onde teria caído o UFO e o artigo se refere a observações de objetos voadores não identificados na região. Especificamente, o Kuznitsa de 29 de novembro de 1968 traz detalhes de uma ocorrência datada de três dias antes, 26 de novembro, quando uma bola de luz teria sido vista por moradores ao cair próxima a Berezovsky.Outro documento importante que atesta a veracidade do fato é um memorando de março de 1969, escrito em papel timbrado do então Ministério de Defesa Soviético e dirigido ao comandante das Forças de Defesa Militares de Sverdlovsk, o general A. G. Ponomarenko. Tal memorando, com o número de ordem 481, ordena Ponomarenko a auxiliar de todas as formas possíveis os agentes da KGB na região a desenvolverem a Operação Midget. Quem assina o documento, devidamente selado, é o próprio general S. D. Lebedev, comandante-chefe das Forças de Defesa Aérea da URSS.
Oura importante peça desse episódio é uma carta datada de 3 de novembro de 1969, em papel timbrado da KGB, ao diretor de pesquisas do Departamento de Investigações Científicas da URSS, o coronel A. I. Grigoriev. A carta mostrada no programa afirma que um objeto voador não identificado teria se acidentado no território soviético e que seus restos, de apenas 3 m de altura por 5 m de diâmetro, tinham estranhas criaturas em seu interior. A carta também se referia a uma manobra secreta de resgate dos destroços, mas esta foi chamada de Sverdlovsk Midget.
É evidente que estes documentos necessitam de autenticação e os ufólogos já estão correndo atrás destas evidências. Mas, enquanto isso, algumas conclusões já podem ser tiradas quanto à parte do filme que mostra o resgate do UFO, após sua análise no local pelos militares e agentes civis da KGB. Segundo estudiosos, dificilmente essa seria uma farsa. Primeiramente porque fica evidente, no filme, que não há manipulações no cenário nem nas gravações. Em segundo lugar, se fosse uma farsa, o filme seria uma das melhores falsificações envolvendo UFOs de que se têm notícia e certamente não seria vendida no mercado negro de Moscou a meros 10 mil dólares, uma ninharia...
Ray Santilli, que detém os direitos dos filmes das autópsias do suposto ET de Roswell (e acusado de estar por trás de um grande esquema que lhe rendeu milhões), teria pago 150 mil dólares ao cinegrafista que alega ter feito as tais gravações. Como é possível, então, que os filmes soviéticos, incomparavelmente mais bem feitos e inquestionavelmente de maior credibilidade, custariam apenas 10 mil dólares? Hefnan analisa detidamente todas as possíveis explicações para os filmes, desde o mesmo ser a gravação do resgate de algo não extraterrestre (um avião secreto, por exemplo) até uma fraude interna ou externa da KGB.
Suas conclusões são de que seria impossível reunir nas gravações apresentadas tamanho número de quesitos que, simultaneamente, levassem a concluir a legitimidade do mesmo. Se apenas alguns fatores se encaixassem na realidade, teríamos conclusões bastante diferentes. Mas são muitos os fatores que realmente não podem ser forjados nestas películas, comenta. É simplesmente impossível que alguém tenha reunido num mesmo segmento de filme um número tão grande de itens legítimos, conclui.
No momento, os ufólogos mais próximos das evidências esperam conseguir da TNT permissão para analisar quimicamente as películas originais, de forma a se constatar (ou não) que se tratam de filmes do fim dos anos 60. Por outro lado, os estudiosos começaram a bombardear as autoridades russas em busca de informações complementares que confirmem (ou não) os fatos apresentados. Entretanto, dado ao desmoronamento das instituições do país, em virtude da acentuada crise financeira que o atinge, isso tem se mostrado uma tarefa impossível no momento.
Ao mesmo tempo, ufólogos russos estão vasculhando a região Sverdlovsk, especialmente a localidade de Berezovsky, em busca de testemunhas que se lembrem do ocorrido e queiram prestar depoimentos. Destacamentos do Exército e de outras instituições soviéticas que possam estar envolvidas, assim como alguns escritórios da KGB, também estão sendo procurados pelos estudiosos, que acreditam encontrar alguém que possa acrescentar mais informações aos fatos.
Autópsia do extraterrestre
Quanto aos procedimentos de autópsia de um suposto corpo extraterrestre que aparecem em curtas gravações obtidas pela TNT também há bons indícios de que sejam autênticas. Inicialmente, alega-se que elas foram feitas na capital da Rússia alguns meses depois do resgate da nave acidentada. Não se sabe ainda, com exatidão, em que local a autópsia foi conduzida, mas suspeita-se do Instituto Médico de Estomatologia Imeni Semashko, em Moscou. A instituição tem um Departamento de Anatomia e está agregada ao Hospital Semashko.Os estudiosos chegaram até este nome ao verem, no programa, um documento em papel timbrado de uma instituição médica com o nome Semashko. Uma busca na lista telefônica de Moscou indicou, com esse nome, o Instituto e o Hospital, disse Hefnan. Aparentemente, o documento seria uma espécie de relatório de autópsia resumido, onde se vêem os nomes dos médicos Kamyshov, Savitsky e Gordeenko. Não se conhece seus nomes completos, mas na gravação apresentada no programa, entre os diálogos que trocaram, um chama o outro pelo apelido Pasha, que em russo é um diminutivo de Pavel.
Seguindo estas pistas, ufólogos russos tentaram se informar de seus paradeiros, mas descobriram que todos morrem curiosamente no mesmo dia 24 de março de 1969 apenas uma semana após as autópsias. No entanto, seus atestados de óbito foram emitidos em diferentes regiões da URSS, o que é absolutamente evidente de que se tentava promover um despistamento dos fatos, caso alguém viesse a descobri-los. Os céticos argumentam justamente o contrário: que esse é um indício de fraude. No entanto, naquela época, documentos soviéticos em geral eram impressos na gráfica oficial do Estado, a Gosznak, e dificilmente poderiam ser falsificados [é na mesma Gosznak que se imprime até hoje o rublo].
Analisando as seqüências da autópsia, muitos outros detalhes também podem ser apurados. Primeiramente, fica claro que os médicos que nelas aparecem agem normalmente, como se de fato estivessem realizando uma operação daquele tipo. Não existe indicação nenhuma de que sejam artistas encenando algo. Parece extremamente verdadeiro e impressionante, declarou Friedman à Revista UFO. De fato. Não somente o comportamento dos médicos nas cenas, mas também sua indumentária, o instrumental utilizado e demais detalhes da sala de cirurgia conferem.
Por exemplo, os médicos não utilizam máscaras cirúrgicas ou proteção especial para a cabeça, expondo-a durante a autópsia. Esse é uma argumento muito forte a favor da legitimidade da gravação, pois, se fosse uma fraude, evidentemente que se providenciaria estas peças do vestuário para que parecesse mais real. Por outro lado, sua não utilização indica que os médicos não tinham receio de serem identificados no futuro, caso as gravações vazassem, definiu o estudioso Hefnan. Ou seja: essas gravações eram para ser mantidas a sete chaves, como convém à KGB, e não se esperava que vazassem algum dia. Vazou!
O interior da sala onde a autópsia é feita também não apresenta nada de extraordinário. A mesma é revestida de azulejos e tem uma decoração típica de um hospital moscovita inclusive, há muitos exatamente como esse até hoje no país. São três homens que procedem à autópsia em idades estimadas entre 25 e 35 anos e todos demonstram estar surpresos e até deprimidos com tudo aquilo que presenciam. Isso também corresponde aos fatos, pois informações vindas de outras fontes confirmam que foi solicitado aos médicos do Hospital Semashko que fizessem tal autópsia praticamente de surpresa, sem maiores preparos. Era dessa forma que a KGB atuava nos anos 60 e 70, confirmou Hefnan.
Ainda na cena dos procedimentos cirúrgicos de autopsia, uma moça é vista tomando notas de tudo o que os médicos ditam. Ela foi posteriormente identificada como sendo O. A. Pshonkina, uma estenógrafa da KGB, e os ufólogos moscovitas já estão em seu encalço [existem 10 Pshonkins na lista telefônica de Moscou]. Dentro da sala também se encontram alguns militares em uniformes da época, acompanhando rigorosamente o que os médicos realizam. Há um clima de cordialidade entre eles. Um dos militares é identificado como sendo o chefe Decan Tolmakov e, outro, o agente Kravtsov ambos da KGB. O curioso, também, é que esses senhores são citados no relatório da autópsia já mencionado.
Quanto ao corpo extraterrestre sendo autopsiado, na verdade o que aparece na cena é apenas um pedaço de seu torso e, separada dele, uma parte do braço direito e a mão. Estas peças são pequenas, parecem estar em avançado estado de decomposição e são filmadas enquanto os médicos mantém um diálogo. Um deles pede a outro para medir o torso, recebendo como resposta a medida de 58 cm de comprimento por 37 de largura, na altura do tórax da criatura morta. Se reconstituído a seu tamanho normal, este ser não teria mais do que 1,2 m de altura, desde os pés até a cabeça mas estes órgãos não estavam disponíveis para análise.
Se são autênticos todos estes segmentos de filmes apresentados no programa da TNT e, agora, também pela Band, isso é uma incógnita. Ufólogos realmente envolvidos com o assunto garantem que sim, após analisarem as evidências. Enquanto isso, os céticos como de costume alegam que tudo não passa de mais uma farsa. Seja como for, as investigações continuam e só o tempo poderá dizer se estamos diante da maior revelação ufológica do século ou de mais uma tentativa de se desmoralizar os ufólogos e a Ufologia. E se a resposta for esta segunda opção, uma nova pergunta surgirá, ainda mais forte que as primeiras: por que se gasta tanto para se destruir a verdade sobre os discos voadores?
Cortesia: A.J.Gevaerd - editor da Revista UFO