Fonte: Revista Istoé Nº 1553 7 de julho de 1999
A S T R O N O M I A: A estrela ferve
Tempestades solares podem danificar equipamentos terrestres de
alta tecnologia no ano que vem.
Por LU GOMES
Como se não bastasse o bug do milênio, tempestades solares
previstas para o começo do próximo ano também poderão
atormentar a moderna tecnologia terrestre. Quer dizer: o ano 2000
pode começar no escuro e com o celular mudo. Navios e aviões
que dependem de satélites para sua navegação também poderão
enfrentar problemas. Os meteorologistas cósmicos prevêem que o
Sol está para entrar na fase eruptiva mais violenta do seu ciclo
de 11 anos. O pior é esperado para o início de janeiro, quando
labaredas e erupções solares colossais explosões
equivalentes a um milhão de bombas atômicas de 100 megatons
mandarão grandes ondas de energia para a Terra capazes de
causar blecautes, bloquear comunicações por rádio e tirar os
satélites de suas órbitas. A boa notícia é que o ápice do
ciclo solar será mais fraco do que os registrados anteriormente.
E pela primeira vez haverá um alerta antecipado, graças ao satélite
Soho, que detecta as explosões solares e avisa com uma hora de
antecedência a chegada da tempestade cósmica. O aviso, que será
veiculado pela Internet, dará tempo às distribuidoras de
energia elétrica atenção, Eletrobrás de
evitarem danos em suas redes, enquanto os operadores de satélites
poderão desligar os equipamentos ou enviar sinais para correção
de curso. Os cientistas já estudaram 23 ciclos solares, mas o
atual pode ser o mais prejudicial da história devido à
vulnerabilidade da tecnologia de comunicações utilizada hoje em
dia, a qual nunca esteve exposta a uma atividade solar máxima.
As explosões solares podem provocar uma descarga elétrica na
superfície dos satélites, disparando sinais fantasmas capazes
de colocá-los fora de órbita. No ciclo anterior, em 1989,
pequenos foguetes propulsores de um satélite funcionaram
repentinamente, tirando-o de sua posição. Outro foi perdido
quando seus giroscópios falharam. Os telefones celulares são
vulneráveis porque usam a ionosfera (a zona de gases
eletricamente carregados da atmosfera superior) para transmitir
sinais de rádio e as explosões solares afetam bastante a
ionosfera. A navegação marítima e aeronáutica depende do
sistema de posicionamento global (GPS), uma rede de 27 satélites
que também pode ser avariada. E este talvez seja o maior risco
que correremos, pois muitos aviões estão voando com auxílio do
GPS. O fluxo eletromagnético vindo do Sol pode provocar fortes
ondas de descarga elétrica nos cabos de transmissão de força,
causando curtos-circuitos e queimando o equipamento. Em 1989, uma
tempestade solar fez toda a província canadense de Quebec ficar
no escuro, enquanto as bobinas de uma estação transformadora em
Salem, Nova Jersey, se derreteram e pegaram fogo, provocando um
blecaute na área. É provável que o aquecimento global não
seja provocado pela queima de combustível fóssil, mas pelo Sol.
Pesquisas sugerem que o fluxo magnético que vem da estrela mais
que dobrou neste século. Como este magnetismo está relacionado
com a atividade das manchas solares e a intensidade com que a luz
do Sol atinge a Terra, esse aumento poderia ter causado o
aquecimento mundial do clima.
Vento solar. A evidência surgiu de uma nova análise do campo
magnético existente entre os planetas, feita pelo Laboratório
Rutherford Appleton, da Inglaterra. Este campo é provocado pelo
vento solar, uma corrente de partículas lançadas pelo Sol e que
enche o sistema solar. Os cientistas descobriram que desde 1964 o
campo magnético interplanetário aumentou em 40%. Pistas
recolhidas antes da era espacial sugerem que o campo magnético
está duas, três vezes mais forte do que em 1901. Os cientistas
não têm dúvidas de que o aumento do campo magnético é devido
à atividade solar, mas não sabem quais os efeitos desse aumento
na Terra. A pesquisa foi publicada pela Nature e na mesma edição
da revista o professor Eugene Parker, do Laboratório de Astrofísica
e Pesquisa Espacial da Universidade de Chicago, diz que um desses
efeitos poderia explicar o aquecimento global. Ele nota que o
aumento da atividade solar ocorre paralelamente ao aumento de dióxido
de carbono na atmosfera terrestre e isso pode não ser uma
simples coincidência. Segundo ele, o aumento da atividade do Sol
faz a temperatura da Terra aumentar, esquentando os oceanos.
Aquecidos eles absorvem menos dióxido de carbono da atmosfera,
fazendo com que o ar do planeta acumule mais gases do chamado
"efeito estufa".
Um abraço a todos
Paulo Duarte, desde Floripa-SC
12/8/99